segunda-feira, 20 de julho de 2015

Entraves para a Educação de Jovens e Adultos no Brasil

Quais são os entraves da educação de jovens adultos no Brasil? No campo das políticas educacionais e da reflexão pedagógica, a educação de jovens e adultos é comumente colocada em posição secundária em relação à educação de crianças e adolescentes. Entretanto, em uma abordagem mais ampla e sistêmica da educação, a educação de jovens e adultos pode ser considerada “como uma das arenas importantes onde vêm se empreendendo esforços para a democratização do acesso ao conhecimento” (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001, p. 58). Há basicamente três grandes entraves para a educação de jovens e adultos que devem ser levados em conta  ao discuti-la neste blog:
1. O primeiro se refere à predominância da ideia de educação compensatória na educação de adultos. Esta visão está ligada à concepção do ensino supletivo, isto é, a reposição de estudos não realizados na infância e na adolescência. 
Ao dirigir o olhar para a falta de experiência e conhecimento escolar dos jovens e adultos, a concepção compensatória nutre visões preconceituosas que subestimam os alunos, dificulta que os professores valorizem a cultura popular e reconheçam os conhecimentos adquiridos pelos educandos no convívio social e no trabalho (DI PIERRO, 2005, p.1118).
Esta visão se limita apenas a reproduzir as práticas e o currículo das escolas regulares. Como ela representa um modelo de suplência, mais acelerado que a educação básica regular, é disponibilizado ainda menos tempo para que o aluno tenha contato o ambiente escolar e encontrar possibilidades de emancipação. 
2. O currículo da educação de jovens e adultos é também uma reprodução da perspectiva cientificista de toda a educação básica. Este é o segundo entrave da educação de jovens e adultos porque, nesta modalidade, o ensino se mantém excessivamente “tecnicista e disciplinarista, o que dificulta o estabelecimento de diálogos entre experiências vividas, os saberes anteriormente tecidos pelos educandos e os conteúdos escolares” (OLIVEIRA, 2007, p.86). Desta forma, o currículo engessado, o formalismo e a fragmentação dos saberes precisam ser superados para se almejar uma educação de adultos, em que não faz sentido pressupor uma trajetória única para todos os sujeitos, que ao menos projete o empoderamento. 
3. O terceiro entrave está relacionado ao processo de formação de professores para atuar na educação de jovens e adultos. Há, segundo Ribeiro (1999), a falta de formação específica dos educadores que atuam nessa modalidade de ensino, resultando numa transposição inadequada do modelo da educação básica regular. Este entrave implica em dois outros problemas: a infantilização dos sujeitos e o surgimento de uma visão assistencialista da educação de jovens e adultos.
Como forma de superar estes problemas, Ribeiro (1999) propõe “a valorização do diálogo como princípio educativo, com a decorrente assimilação da noção de reciprocidade na relação professor-aluno” (RIBEIRO, 1999, p. 193). A autora também aponta para a necessidade de romper com a visão assistencialista, isto é, vista como uma ação de caráter voluntário, marcada pela doação, favor, missão e movida pela solidariedade. É preciso que o educador aborde sempre “a noção de educação como direito de todos e incentivando-os a assumir responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento e pelo desenvolvimento social” (RIBIERO, 1999, p.193).
E você, poderia apontar mais algum entrave que desafia a educação de jovens e adultos no Brasil?

Referências:
DI PIERRO, Maria Clara; JOIA, Orlando; RIBEIRO, Vera Masagão. Visões da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Caderno Cedes, ano XXI, n. 55, p. 58-77, 2001.

DI PIERO, Maria Clara. Notas sobra a redefinição da identidade e das políticas públicas de educação de jovens e adultos no Brasil. Educação e Sociedade, vol. 26, n. 92, p.1115-1139, 2005.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Jovens e Adultos como Sujeitos de Conhecimento e Aprendizagem. In.: MASAGÃO, Vera Ribeiro (org.) Educação de Jovens e Adultos: novos leitores, novas leituras. São Paulo: Mercado das Letras, 2001

RIBEIRO, Vera Masagão. A Formação de Educadores e a Constituição da Educação de Jovens e Adultos como Campo Pedagógico. Educação e Sociedade, ano XX, n.68, p.184-201, 1999.

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