segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A formação de educadores e a constituição da educação de jovens e adultos como campo pedagógico - Vera Masagão Ribeiro

 RESENHA: RIBEIRO, Vera Masagão. A formação de educadores e a constituição da educação de jovens e adultos como campo pedagógico. Educação & Sociedade, ano XX, n. 68, dezembro, 1999.

          Apesar de datado no final da década de 1990, o artigo de Ribeiro (1999) é uma referência no campo das pesquisas ligados à EJA, primeiramente por tratar de um dos maiores entraves qualitativos desta modalidade, que é a formação de educadores e, em segundo, por sistematizar os meandros da constituição da educação de jovens e adultos como campo pedagógico. Publicado na revista Educação & Sociedade o artigo tem como objetivo central discutir a formação de educadores da EJA de forma contextualizada ao processo de constituição da EJA como campo pedagógico, levando em conta o prejuízo que a perspectiva compensatória e assistencialista acarreta para construção da identidade da EJA e, por conseguinte, da profissionalização de seus educadores.
            Uma questão marcante no artigo de Ribeiro (1999) é a denúncia para a falta de formação específica dos educadores de jovens e adultos, o que resulta numa transposição inadequada do modelo de escola consagrado no ensino de crianças e adolescentes. A autora descreve uma passagem ocorrida em visita a uma escola de jovens e adultos na periferia de São Paulo, em que as falas da educadora, que passava por um processo de formação continuada, ora demonstrava um tratamento infantilizado de seus alunos, ora buscava dar relevância às experiências de vida dos educandos.
            Ao realizar a análise desta passagem, Ribeiro (1999) traz à discussão o conceito de cuidado, compreendido como parte integrante dos saberes do educador de crianças, que, naquele instante, era transposto intuitivamente para educação de jovens e adultos. Ao apresentar seus alunos com a frase “estas são minhas crianças”, sua referência simbólica é a educação de crianças e a maternagem[1], quando seu sentido era, na visão da autora, de atribuir cortesia com base na relação entre adultos, que seria pautada principalmente pela amizade e a reciprocidade.
            A infantilização dos educandos jovens e adultos está diretamente relacionada à assimilação da educação dos grupos populares e da EJA como ação filantrópica. As campanhas de alfabetização de adultos, que ao longo da história educacional recente repetiram estratégias de alfabetização de massa, são exemplos de políticas públicas que ajudam a consolidar esta visão. Ainda que nas últimas décadas a EJA venha ganhando espaço – ainda insuficiente – nas políticas públicas de financiamento da educação, a perspectiva assistencialista e infantilizadora são verdadeiros nós que impedem o avanço qualitativo da modalidade e limita as condições de se ofertar aos educadores uma formação mais adequada.
            Entre os efeitos perniciosos da perspectiva assistencialista da EJA, a autora destaca a desprofissionalização do educador de jovens e adultos. Este processo impede a constituição de um estatuto próprio da EJA, que sirva como subsídio para a formação de educadores, que seja capaz de compilar os saberes teóricos e práticos dos educadores da modalidade. A perspectiva não compensatória e assistencialista da EJA desfavorece a organização dos saberes no repensar da formação específica de educadores de jovens e adultos.
            Deste modo, Ribeiro (1999) aponta que a EJA no Brasil é desprovida de uma identidade própria e constante. Ao longo da história ela foi pautada por diversas campanhas, diversas concepções teóricas e esteve à sombra da educação regular, ora incentivada pela educação popular, ora pelo Estado e ora por organizações não governamentais. Com o objetivo de contribuir para a sistematização de conhecimentos fundamentais para a constituição de uma formação específica para educadores da EJA, a autora organiza três ideias-força que impulsionaram as tentativas de construir identidade dessa modalidade educativa:
1.      A dimensão política da EJA: trata-se do reconhecimento de que a educação de jovens e adultos se destina a membros de classes populares, segmentos excluídos do sistema escolar regular e de outras instâncias do exercício pleno da cidadania. Esta dimensão está diretamente relacionada á trajetória da EJA no Brasil, muito ligada à educação popular e à perspectiva libertadora acenada por Paulo Freire, que valoriza o diálogo e a noção de reciprocidade como princípios educativos fundamentais.
2.      As necessidades de aprendizagem da idade adulta: trata-se do enfoque privilegiado às necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos, principalmente ligadas ao mercado de trabalho, ao exercício da cidadania e a promoção da qualidade de vida. A funcionalidade das aprendizagens constitui um fator de motivação para jovens e adultos retornarem à escola. Neste sentido, é preciso conceber uma EJA que combine a educação geral com a educação profissional, a teoria com a prática, o universal com o contextualizado, levando em conta os saberes construídos pelos educando ao longo de suas vidas, com o objetivo de fazer avançar sua capacidade crítica, sua criatividade e sua autonomia.
3.      As características cognitivas de alunos jovens e adultos: trata-se da especificidade do modo de aprender das pessoas jovens e adultas, possuidoras de estilos cognitivos próprios, na medida em que, ao se recolocarem na escola, carregam consigo ampla bagagem experiencial e modos de pensar bastante próprios. O desafio deste processo está em integrar os saberes adquiridos em sua experiência de vida com os conteúdos escolares. Há necessidade de aprofundamento das pesquisas no campo da psicologia do adulto.
Além dessas três ideias-força, Ribeiro (1999) também aponta para outros aspectos necessários para se repensar a formação do educador de jovens e adultos. Um deles é a necessidade de buscar novas formas de organização do espaço-tempo e novos meios de aprendizagem e progressão. Isto porque a EJA ainda é muito pautada pela mesma sistemática de organização das escolas e turmas regulares, desconsiderando, por exemplo, o tempo menor que pessoas adultas possuem para a dedicação aos estudos.
Seria necessário, desta forma, pensar modalidades adequadas às condições de vida destes sujeitos, como a flexibilização da frequência, tendo o devido cuidado para que a modalidade não descambe para uma individualização exagerada ou para modalidades de atendimento não presenciais, que desvalorizam o trabalho com conteúdos atitudinais e as interações sociais entre os educandos. O risco realçado pela autora é o de que a flexibilidade resulte em posturas laxistas e no barateamento dessa modalidade educativa.
As reflexões de Ribeiro (1999) neste artigo contribuem de forma fundamental para sistematização do conjunto de práticas e saberes minimamente articulados em torno de princípios, objetivos e outros elementos comuns na educação de jovens e adultos. Este conjunto é passível de ser organizado como conteúdo da formação inicial dos educadores e fonte para seu aperfeiçoamento profissional por meio da formação continua. Deste modo, o artigo aborda naquela data uma questão pouco investigada pela academia até a atualidade: a formação de professores da EJA e os saberes necessários para a construção do desenho ideal de formação. Em síntese, entre estes saberes e princípios, é preciso considerar a matriz freireana e o paradigma da educação popular, como elementos fundantes da EJA no Brasil, além das necessidades básicas de aprendizagem e saberes funcionais à vida cotidiana dos adultos e suas especificidades nos modos de aprender.

Referências:
RIBEIRO, Vera Masagão. A formação de educadores e a constituição da educação de jovens e adultos como campo pedagógico. Educação & Sociedade, ano XX, n. 68, dezembro, 1999.



[1] Termo utilizado pela autora: enfatiza as dimensões culturais da criação dos filhos, distinguindo-as da dimensão biológica da maternidade.

domingo, 11 de outubro de 2015

Formação de Professores da EJA: um campo em construção


Ao longo da história da educação de jovens e adultos no Brasil, o improviso de professores sempre foi bastante marcante, na medida em que a maioria dos docentes da EJA não possui habilitação ou qualificação específica para atuar na modalidade. As principais implicações negativas deste improviso é o fato dos docentes não levarem em conta as características específicas do aluno adulto em processo de escolarização, fazendo uso de estratégias descontextualizadas.

Sem a devida qualificação, os professores passam a desenvolver a prática pedagógica ignorando as especificidades e peculiaridades dos sujeitos em processo de escolarização. Utilizam metodologias (técnicas, recursos e atividades) sem qualquer significado para os alunos-trabalhadores, desconsiderando o contexto e a historicidade desses sujeitos (MOURA, 2009, p. 46).

O vídeo abaixo, produzido pela Vunesp TV, exibe um debate em torno da formação (ou da sua ausência) de professores para atuar na EJA. No programa, a Profa. Silmara (Unicamp) e o Prof. Nonato Miranda (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), debatem os principais nós na formação inicial e continuada de professores da EJA.


Confira:



MOURA, Tania Maria de Melo. Formação de Educadores de Jovens e Adultos: realidade, desafios e perspectivas atuais. In: Práxis Educacional, Vitória da Conquista, v. 5, n. 7, p. 45-72, jun./dez., 2009.

domingo, 16 de agosto de 2015

De que EJA estamos falando?

Quando ouvimos falar em educação de jovens e adultos, nem sempre temos clareza do qual ideia de EJA está sendo abordada. Na maioria das vezes, o termo nos leva a pensar na alfabetização ou na escolarização de adultos. O campo da EJA, no entanto, vai além da oferta de cursos de alfabetização ou abertura de salas de aula e centros especializados nas redes de ensino. O campo da EJA engloba outros núcleos que precisam de atenção de pesquisadores, educadores e políticas públicas.

Núcleo 1: Alfabetização e escolarização básica de pessoas com 14 anos ou mais, em cursos e exames.

Trata-se da associação mais comum que fazemos do termo EJA. Ela se refere à formação do jovem e do adulto para os saberes escolares e à prática da alfabetização e letramento. Na maioria das vezes, o currículo é bastante fechado e espelhado nas mesmas competências da educação regular de crianças e adolescentes. Neste blog, o foco principal, por uma opção de seu autor, ainda é pensar a EJA a partir desta esfera, especialmente por ser este o meu objeto de pesquisa e meu local de trabalho.

A alfabetização e a escolarização básica de pessoas com 14 anos ou mais, em cursos e exames é promovida principalmente pelo Estado, nas redes de ensino municipais, estaduais e federal. Entretanto, especialmente no que se refere a projetos de alfabetização, também há forte atuação de ONGs e movimentos sociais. Em muitos programas e projetos, são incluídas também habilidades para o trabalho, mas não se tratam exatamente de profissionalização.

Núcleo 2: Educação continuada de trabalhadores com baixa escolaridade

Trata-se da educação promovida por empresas, escolas técnicas, Sistema S e sindicatos, normalmente estruturadas em pequenos cursos e totalmente voltadas para a promoção de habilidades entendidas como necessárias para o mundo do trabalho. Em relação à isto, é muito importante que os especialistas pensem as escolas técnicas e outros espaços de formação profissional como espaços de educação de jovens e adultos. É relevante também conhecermos experiências de associação entre a EJA da educação básica e a EJA profissionalizante, como o projeto PROEJA.

Núcleo 3: Educação popular não formal

Trata-se do processo educacional não formal, que se dá fora do ambiente escolar e da organização dos sistemas de ensino. Ela está ligada à ações de cidadania e participação em assuntos públicos, na maioria das vezes promovidas por agentes públicos, ONGs, movimentos sociais e universidades. Essas ações comumente estão ligadas à temas como saúde, proteção ao meio ambiente e desenvolvimento comunitário. Elas partem do princípio do empoderamento das minorias e da população mais pobre. 

É preciso, portanto, pensarmos de qual EJA estamos falando. Os três núcleos são de grande importância para a compreensão acadêmica e para a ação política. 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

CEREJA - Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos

Uma ferramenta muito útil para todos que de alguma forma se interessam e atuam na educação de jovens é o portal www.cereja.org.br. Trata-se de uma tentativa interessante de compilar uma série de materiais sobre alfabetização e educação escolar de adultos.

De acordo com o portal,
o Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos (Cereja), criado em 2004, é um espaço de interlocução e interação entre profissionais e instituições interessados e/ou dedicados à Educação de Jovens e Adultos (EJA). O Cereja tem como objetivo resgatar, sistematizar, preservar, valorizar e difundir informações e experiências em EJA, assim como incentivar a disseminação de uma cultura de reflexão e difusão dos saberes que se desenvolvem em torno dela.

No portal é possível consultar a Biblioteca com importantes publicações e trabalhos acadêmicos que abrangem a totalidade da temática da EJA, dentre livros, periódicos e outros documentos. Além de divulgar cursos, eventos e outros assuntos pertinentes ao universo da educação e da EJA. Outro recurso interessante é o banco de estatísticas sobre EJA e alfabetização de adultos.

O portal é uma iniciativa da AlfaSol, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos e de utilidade pública que desenvolve ações que visam contribuir para a redução dos altos índices de analfabetismo e ampliar a oferta de Educação Profissional e de Jovens e Adultos. Há também um recurso importante para quem procura escolas que ofereçam EJA: uma ferramenta de localização das escolas a partir do Município ou bairro em que está localizada. 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Oportunidades da Educação de Jovens e Adultos na Baixada Santista

As exigências do mercado de trabalho são cada vez maiores na região, especialmente em tempos de instabilidade da economia. A conclusão da educação básica, muito além de uma necessidade pessoal e profissional, é um direito de todos, garantido pela Constituição de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. 

A região da baixada santista oferece algumas oportunidades para jovens e adultos que, por algum motivo, não concluíram o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio na idade considerada ideal. Além das redes municipais e das escolas estaduais que oferecem a modalidade presencial no período noturno, há na baixada quatro Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA), que oferecem educação básica a partir do 6º ano do Ensino Fundamental até a conclusão do Ensino Médio. Em Santos, há o CEEJA Maria Aparecida Pasqualeto Figueiredo, localizado no bairro da Aparecida e o CEEJA Prof. Archimedes José Bava, localizado na Zona Noroeste. Em Praia Grande, o CEEJA Max Dadá Gallizzi, localizado no bairro do Boqueirão atende adultos de todo litoral sul. No Guarujá, o CEEJA mais novo da região, está localizado no Jardim Helena Maria. 

A modalidade de ensino oferecida pelo CEEJA é baseada na presença flexível, no ensino individualizado e na eliminação de disciplinas. O aluno escolhe os dias da semana e os horários que pode frequentar a escola. Não há salas de aula dividida por séries, porque o estudante recebe individualmente as orientações dos professores de cada disciplina, levando em conta o tempo em que ficou afastado da escola, seu ritmo de estudos e os saberes de cada um. O aluno estuda uma disciplina por vez com o material didático equivalente à série que precisa estudar. Quando concluir uma disciplina, escolhe outra, e assim por diante até a conclusão do curso. As escolas também oferecem oficinas interdisciplinares, com o objetivo de valorizar práticas de socialização e aprendizagem coletiva.

Esta modalidade exige do aluno maior autonomia do que as escolas regulares, porque a preparação prévia para as avaliações é fundamental para o bom desempenho dos alunos. Entretanto, o atendimento oferecido por estas escolas permite que cada estudante siga seu próprio ritmo e que o professor possa trabalhar com as dificuldades e talentos individuais de cada um. Desta forma, o aluno desenvolve sua própria forma de estudar de acordo com sua disponibilidade de tempo e seu estilo de aprendizagem. Não há carga horária a cumprir ou prazo mínimo para conclusão e em todos os CEEJA as matrículas permanecem abertas ao longo de todo ano letivo. Trata-se de uma excelente oportunidade de educação pública, gratuita e de qualidade para adultos que não podem frequentar a escola todos os dias da semana ou que possuem horários de trabalho que dificultam sua inserção em escolas regulares. 

CEEJA Maria Aparecida Pasqualeto Figueiredo: Av. Dr. Epitácio Pessoa, 432 - Aparecida, Santos. Tel.: 3231-7394.

CEEJA Prof. Archimedes José Bava: Av. Afonso Schimidth, 1171 - Castelo, Santos. Tel.: 3203-3457

CEEJA Max Dadá Gallizzi: Rua Pernambuco, 865, Boqueirão, Praia Grande. Tel.: 3473-4899. http://www.ceejamax.com/

CEEJA Guarujá: Rua Azuil Loureiro, 250. Jd. Maria Helena, Guarujá. Tel.: 3383-3995.   http://ceejaguaruja.blogspot.com.br/

segunda-feira, 27 de julho de 2015

EJA Mundo do Trabalho

Uma das principais dificuldades encontradas por professores que atuam na educação de jovens e adultos é a escassez de material didático específico para esta modalidade. A maior parte dos materiais didáticos produzidos pelas editoras e sistemas de ensino, não são completamente adequados à realidade da EJA, muitas vezes porque são sistematizados para o tempo e para a carga horária da escola regular, ou porque fazem uso de linguagem destinada ao público infantil. 

EJA – Mundo do Trabalho é um programa do Governo do Estado de São Paulo, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SDECTI), que, por meio de parcerias com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE) e com as Secretarias Municipais de Educação, procura oferecer educação para jovens e adultos, com conteúdos que dialogam diretamente com o mundo do trabalho. No âmbito do Programa é de responsabilidade da SDECTI fornecer os materiais didáticos elaborados especialmente para as aulas e, ainda, capacitar os professores, no que se refere à concepção e à proposta metodológica do Programa. Cabe às prefeituras e a SEE, a contratação de professores e a disponibilização de infraestrutura e logística necessárias para a execução do Programa. 

Desta forma, o programa depende da adesão das prefeituras, que se encarregam do suporte material e pessoal para oferecerem salas de EJA com uso do material e capacitação promovida pela Fundação de Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP). No âmbito da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, a parceria se dá apenas nos 31 Centros Estaduais de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA) espalhados pelo estado e como metodologia baseada no ensino individualizado, presença flexível e eliminação de disciplinas. 

De acordo com seu portal, são seus pressupostos:

1. O reconhecimento de que o acesso à educação pública e a permanência nela é um direito dos cidadãos a ser garantido pelas políticas públicas a qualquer tempo. Nesse sentido, a educação de jovens e adultos é, antes de tudo, um resgate à dívida social que se tem em razão do impedimento de exercer o direito aos estudos na idade adequada. 

2. A percepção de que jovens e adultos que retornam à escola têm o mundo do trabalho como um locus privilegiado, posto que dialoga diretamente com seu cotidiano. Por essa razão, elegeu-se o trabalho como eixo estruturante do Programa, e o conjunto do material elaborado, além de estabelecer um diálogo permanente com esse tema, inclui a disciplina Trabalho na parte diversificada do currículo. Nela são estudados conteúdos relativos à compreensão da evolução do trabalho na história, e também aspectos que auxiliam os estudantes na construção do seu currículo, na procura do primeiro ou de um novo emprego e, principalmente, no reconhecimento dos conhecimentos que acumulou durante a vida. 

3. O reconhecimento e respeito à heterogeneidade das experiências de vida, conhecimentos e convicções do público de jovens e adultos que frequenta as classes da EJA. 

O portal EJA Mundo do Trabalho oferece alguns conteúdos que podem ser de grande valia para professores, gestores e alunos da EJA:

  • Conteúdos: são disponibilizados os cadernos do aluno e do professor (precisa de senha) e os vídeos de apoio pedagógico. O material é um Recurso Educacional Aberto (REA) e, desde que , pode ser utilizado por qualquer professor e qualquer estudante. Há material para EJA regular e outro específico para o CEEJA, tanto de ensino fundamental II, quanto ensino médio.
  • Sala dos Professores: um espaço destinado ao debate e ao compartilhamento de ideias, experiências e resultados que obtiveram na Educação de Jovens e Adultos. Lá também o professor poderá esclarecer dúvidas sobre o Programa e a utilização do material; compartilhar metodologias, problemas e soluções; encontrar referências bibliográficas; comunicar-se com os professores da mesma ou de outra disciplina em outros municípios etc. 
  • Professor On-Line: além do material didático que utiliza em suas aulas - os Cadernos do Estudante e os vídeos de apoio —, o aluno também pode contar com o Professor On-Line, que vai oferecer orientações para estudar e contribuir com o seu aprendizado.
Vale a pena conhecer!


sexta-feira, 24 de julho de 2015

Educação de Jovens e Adultos e os Direitos Humanos

O professor da PUC-SP, Dr. Sérgio Haddad, uma das referências nacionais na pesquisa sobre EJA, publicou no Conselho Internacional de  Educação de Adultos - ICAE, ocorrido em Montevidéu no ano de 2003, um importante artigo sobre a relação entre a educação de jovens e adultos e a luta pelos Direitos Humanos. O texto é bem curto e vale a leitura.

No documento, intitulado Educação de Jovens e Adultos, a promoção da Cidadania Ativa e o desenvolvimento de uma consciência e uma cultura de paz e direitos humanos, o autor enfatiza a importância da educação escolar para o exercício da cidadania  ativa, isto é, uma "cidadania que tem como base o respeito em relação às diferenças e a superação das desigualdades sociais, bem como a capacidade de dialogar, buscar consensos que privilegiem a maioria dos envolvidos, ou, num sentido mais amplo, o bem comum" (HADDAD, 2003, p. 02).

Para ele, "ou educamos para o convívio social, com justiça e respeito pela diversidade, ou perpetuaremos as relações desiguais que resultam na produção da miséria, da intolerância e, consequentemente, da violência e discriminação" (ibid, 2003, p. 03), o que significa dizer que o exercício pleno da cidadania fortalece a democracia e, portanto, também o conjunto de diritos civis, sociais e políticos que compõem os direitos humanos. 
Educar para que o respeito aos direitos – todos eles – seja um valor compartilhado por todos os seres humanos consiste em estimular educadores e educandos a buscar alternativas para a superação das situações de violações apresentadas pela realidade. Consiste em informar-se sobre seus direitos e os direitos dos outros, apresentando os mecanismos de exigibilidade existentes em um dado país e no mundo. Consiste em atuar coletivamente na exigência deste respeito (ibid, 2003, p. 04).
Para que a EJA seja um campo para defesa e fortalecimento dos direitos humanos e de empoderamento dos sujeitos para o exercício da cidadania ativa, é preciso superar a dimensão técnica e economicista a partir da qual a modalidade é muitas vezes tratada e recuperar a dimensão política da educação de adultos. A EJA precisa ser tratada como um direito humano, como espaço de conscientização e produção de justiça social. "Significa dizer que a educação é uma prática social que serve para prover as pessoas de instrumentos para melhor ler, interpretar e atuar na sua realidade, como sempre nos ensinou Paulo Freire" (ibid, 2003, p. 04).

Referência:



quinta-feira, 23 de julho de 2015

Programa Roda de Conversa: Os desafios da Educação de Jovens e Adultos

Em março de 2014, o Programa Roda de Conversa, veiculado pela TV Rede Minas, reuniu três grandes referências da pesquisa sobre educação de jovens e adultos no Brasil:

  • Prof. Dr. Geraldo Leôncio Soares, Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
  • Prof. Dra. Jane Paiva, Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro  (UFRJ)
  • Prof. Dra. Maria Clara di Pierro, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)
O Programa, mediado pelo apresentador Marcílo Lana,  aborda diversos temas sobre a educação de jovens e adultos em três blocos de cerca de 20 minutos como:

Perfil e especificidades do aluno adulto.
Hipóteses que justifiquem a queda generalizada das matrículas.
Possíveis causas da elevada evasão escolar na EJA.
Proposta pedagógica, autonomia e currículo da EJA.
Superação do modelo Supletivo de aligeiramento.
Políticas públicas para EJA.
Juvenilização da EJA
•  Formação de professores para atuar na EJA.
•  Modelo dos centros de ensino individualizado e flexível.
•  A discriminação da EJA nas redes de ensino.

A reunião dos pesquisadores neste debate contribui muito para a reflexão de diversos aspectos da EJA. As discussões trazem dados novos de pesquisas e condições para novos pesquisadores, professores, gestores e estudantes se aproximarem deste campo. Recomendo os vídeos para todos os interessados em compreender melhor a educação de jovens e adultos no Brasil.

Bloco 01

Bloco 02

Bloco 03

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Programa Brasil Alfabetizado: o que está errado?

Em 2003, com a chegada de Lula à Presidência da República, um novo horizonte de políticas públicas de combate à miséria e ao analfabetismo se desenhava. Nascia o Programa Brasil Alfabetizado, que previa inicialmente um movimento de mobilização de jovens e da sociedade civil para alfabetizar em pouco tempo cerca de 20 milhões de analfabetos no Brasil.

De acordo com Catelli Jr (2014), inicialmente o Programa contava somente com recursos federais e contava desde o início com o apoio da sociedade civil através de jovens educadores leigos, que recebiam bolsa e formação para atuar com alfabetização de adultos. Segundo a comparação de dados estatísticos do MEC e do IBGE, apesar de ter atendido mais 5 milhões de pessoas, a redução do analfabetismo no Brasil não ultrapassou a faixa dos 200 mil. Além do baixo investimento do governo, o Programa não obteve grande sucesso também por conta da falta de vagas na EJA para que os alfabetizandos pudessem dar continuidade aos seus estudos, o que representa uma falta de vínculo entre a campanha e a política pública de educação de jovens e adultos. 

Podemos apontar algumas falhas graves no programa, como:
baixíssimo valor investido por aluno, quando comparado com qualquer aluno das redes públicas de ensino; 
processo de formação de turmas permeado por relações clientelistas (inscrição de pais, tios, avós, pessoas que apenas “davam o nome”, sem qualquer comprometimento com a frequência, apenas para ajudar um parente que precisava da bolsa de 200 reais, oferecida pelo Governo Federal)
insuficiente formação dos educadores; 
insuficiência do trabalho de formação inicial e continuada dos educadores; 
baixos valores pagos aos educadores e coordenadores; 
insuficiente controle do processo e de avaliação dos resultados;
baixíssimo encaminhamento dos egressos do programa para a EJA.

Apesar da reformulação do Programa tê-lo descentralizado em 2007, ainda não foram observadas mudanças mais substantivas em seus resultados. No total, são mais de 13 milhões de inscrições no programa, entre 2003 e 2010. Isso, entretanto, não significa que mais de 13 milhões de pessoas foram alfabetizadas. Em 2010, passados sete anos da implementação do programa, conforme o Censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tínhamos no Brasil 9,6% da população analfabeta, ou seja, são aproximadamente 14 milhões de pessoas que se consideram incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece, conforme a definição do próprio IBGE, ancorada em parâmetros internacionais. Em 2000, eram 16,2 milhões de analfabetos, ou seja, enquanto o Programa Brasil Alfabetizado atendeu a 13 milhões de pessoas, entre 1993 e 2000, de 1991 a 2000 registra-se apenas a redução de 1,8 milhões de analfabetos no país.

Uma última observação importante é que os analfabetos não estão presentes apenas no interior do país ou no campo. O Censo 2010 indica que somente na região metropolitana da cidade de São Paulo havia 584 mil analfabetos absolutos e que, na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, esse número era de 354 mil; na da cidade de Fortaleza, 272 mil; e na da cidade de Recife, 268 mil analfabetos. No total, são 3,4 milhões de analfabetos nas regiões metropolitanas brasileiras. Somente isso já nos permite traçar objetivos importantes, como investir e criar estratégias para alfabetizar pessoas jovens e adultos nos grandes centros urbanos, em contextos complexos, uma vez que, na sua maioria, são pessoas pobres e excluídas, com várias necessidades, além das educacionais.

Isso não quer dizer, por sua vez, que o país tenha conseguido avançar tanto quanto poderia, se considerarmos que dos cerca de 25 milhões de analfabetos existentes em toda a América Latina, mais da metade deles, 14 milhões, estão no Brasil. Mais do que isso, na América Latina, o Brasil é o sétimo país com maior taxa de analfabetismo dentre os 27 países da América Latina e Caribe, em 2010. Fica atrás do Uruguai, com 1,7%; da Argentina, com 2,4%; do Chile, com 2,9%; do Paraguai, com 4,7%; e da Colômbia, com 7,6%, segundo dados da UNESCO.

Referências:

CATELLI Jr., Roberto. Alfabetização de Jovens e Adultos no Brasil: de programa em Programa. In: MORTATTI, / Maria do Rosário Longo, FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva (org.). Marilia: Oficina Universitaria; Sao Paulo: Editora UNESP, 2014, p. 99-105.

IBGE - http://www.ibge.gov.br/home/

terça-feira, 21 de julho de 2015

Lourenço Filho: um precursor da educação de adultos

Você já ouviu falar em Lourenço Filho, um dos precursores da educação de jovens e adultos no Brasil?

Vida e Carreira:
Nascido no interior de São Paulo, em 1897, Lourenço Filho foi bacharel em Direito, mas dedicou a vida a educação, atuando como um dos atores mais importantes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. 

Seguiu a carreira do magistério, inicialmente em São Paulo, em seguida no Rio de Janeiro. Entre 1922 e 1923 foi responsável pela reforma no ensino público no Ceará. Na década de 30, transferiu-se para o Rio de Janeiro exercendo funções de chefe de gabinete do ministro da Educação Francisco Campos. Por essa época, concebeu uma faculdade reunindo as áreas de educação, ciências e letras. No tempo da gestão de Anísio Teixeira na Secretaria de Educação do Distrito Federal, dirigiu o Instituto de Educação do Rio de Janeiro.

Em 1935 foi nomeado diretor e professor de psicologia educacional da Escola de Educação da Universidade do Distrito Federal. Posteriormente, foi diretor geral do Ensino Público em São Paulo, membro do Conselho Nacional de Educação em 1937 e diretor geral do Departamento Nacional de Educação. Em 1938, a pedido do ministro Gustavo Capanema, organizou o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos que, em 1944, lançou a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Publicou, entre outros trabalhos, Introdução ao estudo da Escola Nova: tendências da educação brasileira (1940). 

Campanha de Alfabetização de Adultos de 1947
Sua relação com a educação de pessoas adultas está relacionada com a Campanha de Alfabetização de Adultos de 1947. Essa campanha tinha em sua essência uma concepção de educação voltada para a cidadania, um enorme avanço para a época. Tratava-se de um projeto que pretendia ir além da simples alfabetização de adultos e se inseria no pressuposto constitucional de educação para todos, propondo-se a oferecer uma educação de base para todos. 

A UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, fundada 1946, desenvolveu orientações aos Estados-membros favoráveis ao desenvolvimento da educação de adultos, sempre baseada em um princípio que se coloca para além da alfabetização, tratando do direito à “educação de base” das populações das regiões desfavorecidas do globo. Desta forma, o foco prioritário era a educação fundamental voltada à população de uma maneira geral, crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos. As ideias de Lourenço Filho na Campanhas de Alfabetização de 1947 foram fortemente baseadas nas orientações deste organismo internacional.

Críticas:
Apesar de ser reconhecida como uma ação exemplar, muitos autores tecem críticas à Campanha de 1947 por conta da forma como Lourenço Filho caracterizava o adulto analfabeto como um sujeito incapaz de decidir por si mesmo nas diversas esferas da vida social, portanto, com limitações para exercer seus direitos. Projetava-se, desta forma, uma imagem infantil do adulto não alfabetizado, como incapaz que de forma deficiente desempenharia suas responsabilidades familiares e profissionais.

Do ponto de vista político, esta definição sugere uma distinção, que se dava a partir de critérios de classificação que diferenciavam os que sabiam ler e escrever dos que não o sabiam, entre os indivíduos reconhecidos como capazes ou incapazes de participar plenamente da vida social. Tal distinção impunha a proibição de voto aos analfabetos, assim como a restrição a outras esferas da sociedade.

Documentário:

Assista ao documentário produzido pela TV ESCOLA sobre Lourenço Filho



Referências:

SAVIANI, Dermeval. História das idéias pedagógicas no Brasil. – Campinas, SP: Autores Associados, 2007. 

Fundação Getúlio Vargas: http://portal.fgv.br/

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Revista EJA em Debate

Um dos principais objetivos deste blog é a divulgação de pesquisas acadêmicas que tenham a educação de jovens e adultos como foco. Desta forma, sempre trabalharei na ideia de compartilhar artigos, teses e dissertações e, quando possível, procurarei dialogar com eles.

Hoje trago a Revista EJA em Debate (ISSN ELETRÔNICO 2317-1839).Trata-se de um periódico eletrônico semestral do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC) e especializado na publicação de artigos sobre EJA e educação popular. Segundo o escopo da revista, a EJA em Debate vem ao encontro da necessidade de criação de mais veículos que oportunizem as publicações das pesquisas realizadas sobre a educação de jovens e adultos. 

Os trabalhos publicados nas edições da EJA em Debate visam atender diferentes profissionais - pesquisadores, profissionais da educação e alunos da EJA/PROEJA - em contextos multi e interdisciplinares relacionados à temática, visando contribuir para a difusão e intercâmbio de conhecimentos teóricos ou aplicados, bem como para a formação de redes.

A revista EJA em Debate nasceu da iniciativa de um grupo de pesquisadores que percebeu a necessidade de criação de um espaço para debater as questões relacionadas à Educação de Jovens e Adultos. A EJA em Debate tem por objetivo acolher, com vistas à divulgação, a produção de pesquisas na área da Educação de Jovens e Adultos. De periodicidade semestral, os trabalhos aqui publicados devem ser resultados de pesquisas inéditas que possam contribuir para ampliar as discussões sobre a Educação de Jovens e Adultos. (EJA EM DEBATE, 2014, p. 01)

Na 5a edição, de dezembro de 2014, a revista, com qualificação Qualis B4, publicou onze trabalhos divididos em duas partes: oito artigos e três relatos de experiência. Sob o tema “Vivências em EJA”, o conjunto dos textos traz uma série de reflexões acerca de experiências compartilhadas entre educadores(as) e educandos(as) em espaços de educação de jovens e adultos. 

Vale a leitura.

Entraves para a Educação de Jovens e Adultos no Brasil

Quais são os entraves da educação de jovens adultos no Brasil? No campo das políticas educacionais e da reflexão pedagógica, a educação de jovens e adultos é comumente colocada em posição secundária em relação à educação de crianças e adolescentes. Entretanto, em uma abordagem mais ampla e sistêmica da educação, a educação de jovens e adultos pode ser considerada “como uma das arenas importantes onde vêm se empreendendo esforços para a democratização do acesso ao conhecimento” (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001, p. 58). Há basicamente três grandes entraves para a educação de jovens e adultos que devem ser levados em conta  ao discuti-la neste blog:
1. O primeiro se refere à predominância da ideia de educação compensatória na educação de adultos. Esta visão está ligada à concepção do ensino supletivo, isto é, a reposição de estudos não realizados na infância e na adolescência. 
Ao dirigir o olhar para a falta de experiência e conhecimento escolar dos jovens e adultos, a concepção compensatória nutre visões preconceituosas que subestimam os alunos, dificulta que os professores valorizem a cultura popular e reconheçam os conhecimentos adquiridos pelos educandos no convívio social e no trabalho (DI PIERRO, 2005, p.1118).
Esta visão se limita apenas a reproduzir as práticas e o currículo das escolas regulares. Como ela representa um modelo de suplência, mais acelerado que a educação básica regular, é disponibilizado ainda menos tempo para que o aluno tenha contato o ambiente escolar e encontrar possibilidades de emancipação. 
2. O currículo da educação de jovens e adultos é também uma reprodução da perspectiva cientificista de toda a educação básica. Este é o segundo entrave da educação de jovens e adultos porque, nesta modalidade, o ensino se mantém excessivamente “tecnicista e disciplinarista, o que dificulta o estabelecimento de diálogos entre experiências vividas, os saberes anteriormente tecidos pelos educandos e os conteúdos escolares” (OLIVEIRA, 2007, p.86). Desta forma, o currículo engessado, o formalismo e a fragmentação dos saberes precisam ser superados para se almejar uma educação de adultos, em que não faz sentido pressupor uma trajetória única para todos os sujeitos, que ao menos projete o empoderamento. 
3. O terceiro entrave está relacionado ao processo de formação de professores para atuar na educação de jovens e adultos. Há, segundo Ribeiro (1999), a falta de formação específica dos educadores que atuam nessa modalidade de ensino, resultando numa transposição inadequada do modelo da educação básica regular. Este entrave implica em dois outros problemas: a infantilização dos sujeitos e o surgimento de uma visão assistencialista da educação de jovens e adultos.
Como forma de superar estes problemas, Ribeiro (1999) propõe “a valorização do diálogo como princípio educativo, com a decorrente assimilação da noção de reciprocidade na relação professor-aluno” (RIBEIRO, 1999, p. 193). A autora também aponta para a necessidade de romper com a visão assistencialista, isto é, vista como uma ação de caráter voluntário, marcada pela doação, favor, missão e movida pela solidariedade. É preciso que o educador aborde sempre “a noção de educação como direito de todos e incentivando-os a assumir responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento e pelo desenvolvimento social” (RIBIERO, 1999, p.193).
E você, poderia apontar mais algum entrave que desafia a educação de jovens e adultos no Brasil?

Referências:
DI PIERRO, Maria Clara; JOIA, Orlando; RIBEIRO, Vera Masagão. Visões da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Caderno Cedes, ano XXI, n. 55, p. 58-77, 2001.

DI PIERO, Maria Clara. Notas sobra a redefinição da identidade e das políticas públicas de educação de jovens e adultos no Brasil. Educação e Sociedade, vol. 26, n. 92, p.1115-1139, 2005.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Jovens e Adultos como Sujeitos de Conhecimento e Aprendizagem. In.: MASAGÃO, Vera Ribeiro (org.) Educação de Jovens e Adultos: novos leitores, novas leituras. São Paulo: Mercado das Letras, 2001

RIBEIRO, Vera Masagão. A Formação de Educadores e a Constituição da Educação de Jovens e Adultos como Campo Pedagógico. Educação e Sociedade, ano XX, n.68, p.184-201, 1999.

Objetivos do Blog


Olá. Sejam bem-vindos ao blog EJA para todos! 

O objetivo deste espaço é contribuir, através do compartilhamento de experiências, ideias e práticas, para o debate sobre educação de jovens e adultos no Brasil. Apesar da internet já contar com uma série de blogs e espaços informais de discussão sobre os mais diversos campos da educação, há uma escassez de blogs, sites e outras plataformas para discussões sobre questões específicas da educação de jovens e adultos. O objetivo deste espaço é, portanto, contribuir com as discussões sobre EJA no campo da informalidade.

Este é um espaço informal porque não se propõe apenas ao debate acadêmico, o que não significa dizer que pesquisas científicas do campo não fundamentarão nossas publicações. Pelo contrário, enquanto pesquisador da educação de jovens e adultos devo assumir a importância das publicações de outros pesquisadores inseridos nas universidades do país. Entretanto, este também deve ser um espaço de discussão e principalmente de compartilhamento de experiências e práticas de professores, gestores e alunos inseridos em contextos de educação de jovens e adultos. Neste ponto, encontra-se outra lacuna: a formação de professores para atuação na EJA é bastante falha no Brasil o que leva a crer que o compartilhamento dos saberes profissionais dos professores que já atuam nesta modalidade pode ser muito rico para todos. Digo isso enquanto professor, que ao iniciar a carreira atuando em EJA tive muitas dificuldades em compreender as especificidades desta modalidade da educação básica, e como professor coordenador de uma escola especializada em EJA onde percebo na troca de experiências entre professores o caminho mais importante para a formação e construção dos seus saberes profissionais.

O blog está aberto a comentários, críticas e principalmente publicações de pesquisadores, professores, gestores e alunos da EJA que queiram contribuir para o desafio de criar um canal de debate e compartilhamento de saberes, experiências e trabalhos de sucesso. Envie sua contribuição para brunosjoaquim@gmail.com



Mãos à obra!